exposição coletiva
BRUNO VISCO
CHICO MAZZONI
CLARA FERNANDES
ELISA GALEFFI
GOYA LOPES
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Encontros e reencontros fazem parte da vida. Quando esses encontros são imantados pela arte e pelo bem querer, transformam-se em arte/vida. Mas quando essas artes transitam por nossas vidas e o acaso as fazem transcender o nosso cotidiano, elas viram memória viva que o tempo se encarrega de registrar como parte da nossa história.
Assim foi e continua sendo a história do encontro/reencontro dessas cinco figuras singulares, generosas e talentosas que a vida se encarregou de juntar: Bruno Visco, Chico Mazzoni, Clara Fernandes, Elisa Galeffi e Goya Lopes. São artistas que fizeram das suas memórias passadas o presente vivo de suas existências.
No primeiro momento, a Itália enquanto espaço e referência. No segundo momento, a vida e o tempo enquanto referência. O encontro ocorrido há 38 anos representava a descoberta, a ousadia e o querer muito. O reencontro, em tempos atuais, significando o caminho trilhado, o talento reconhecido e a ousadia experimentada. Tudo isto, repleto de sucessos que só a arte e a criatividade possibilitam ao ser humano.
Por isso mesmo, fiquei muito feliz de, não sendo parte do encontro, fazer parte do reencontro de pessoas/artistas que fizeram da arte não apenas o seu labor, mas o próprio amor pela vida. Valeu!
Toca a zabumba que a terra é nossa!
Zulu Araújo / Diretor da Fundação Pedro Calmon
A terra gira e o tempo passa. Santo Agostinho divaga dizendo que o Tempo seria o movimento de todos os corpos. Certo é que, preenchido por nossas vivências e experiências, é a vida que passa…
De Florença, em 1980, a Salvador, 2018, muito tempo transcorreu e continuar fazendo arte, criando beleza, brincando de Deus é, antes de tudo, resiliência, persistência e, porque não, audácia.
É acreditar no talento que lá atrás era apenas uma aposta, uma vontade de seguir fiel aos seus sonhos de juventude.
No presente, a constatação de uma vida plena, enquanto fruto de escolha e vocação.
E na linha do tempo da Sala Contemporânea do Palacete das Artes, de 14 de agosto a 23 de setembro, o ponteiro marca o reencontro de Bruno Visco, com fotografias e poesias; Chico Mazzoni, com a pintura; Clara Fernandes, com suas esculturas e outros objetos tridimensionais; Elisa Galeffi, com fotos de suas instalações, caixas acrílicas e desenho sobre fotografias; e Goya Lopes, com a arte em tecido.
O presente e o passado estão lado a lado nesta exposição, que registra uma homenagem à primeira exposição dos artistas na Casa dello Studente, em Florença (Itália), com fotos e trabalhos de cada um.
Sejam bem vindos a este reencontro de beleza, arte, cultura e memória!
Murilo Ribeiro / Diretor do Palacete das Artes
Éramos belos, jovens, destemidos e realizávamos o nosso sonho de estudar na Itália, após as nossas formaturas. Tínhamos 24/25 anos, muita inspiração e coragem para devolver ao mundo, em arte, a arte que entrava pelos nossos poros a todo momento.
Eis que Graziano, um florentino ruivo e pouco típico, resolveu que iria conseguir um modo de fazermos uma exposição em Florença. Desse modo surgiu a mostra TEMPO – Cinque brasiliani si incontrano e mostrano, na Casa dello Studente, em 1980.
Cada um de nós tratou de reunir o que tinha produzido de melhor naqueles anos italianos e assim montamos a nossa mostra com a raça de quem começa: Bruno Visco com suas telas em tinta acrílica, Chico Mazzoni com seus desenhos a lápis pastel, Clara Fernandes com desenhos em técnica mista e colagens, Elisa Galeffi com suas máscaras tridimensionais e Maria (Goya) Lopes com suas litografias e desenhos.
Foi um momento mágico em nossas vidas, que marcou nossa história como artistas e como amigos.
Depois daquela mostra ialiana voltamos para o Brasil e cada um desenvolveu uma carreira em arte: Bruno, dedicando-se à fotografia e à poesia; Chico, voltado primeiramente para o desenho e depois para a pintura; Clara, aprofundando sua pesquisa em escultura e em outros suportes tridimensionais; Elisa, desenvolvendo impressão de estampas sobre tecido e, em seguida, objetos artísticos; e Goya, fazendo design e arte em tecidos que viriam a ser conhecidos internacionalmente. Entretanto, nunca perdemos contato, trocando continuamente nossas experiências e afetos.
Com a ideia de nos reencontrarmos e mostrarmos a nossa produção atual, 38 anos depois, estamos realizando esta mostra chamada SEGUNDO TEMPO, confrontando, neste reencontro, as nossas atuais produções com as do período florentino.
Nesta oportunidade, cada um dos artistas está apresentando seus trabalhos mais recentes, refletindo ou não aquela experiência italiana. Bruno Visco, com a fotografia e a poesia; Chico Mazzoni, com a pintura; Clara Fernandes, vinda de Sampa, com suas esculturas e outros objetos tridimensionais; Elisa Galeffi, vinda do Rio, com fotografias de suas instalações, composições em caixas acrílicas e desenho sobre fotografias; e Goya Lopes, obviamente, com sua premiadíssima arte de tecidos.
Deste modo, temos uma mostra abrangente dos trabalhos de artistas que engatinhavam em suas carreiras enquanto estudavam na península italiana, e hoje têm suas carreiras consolidadas. Estamos mostrando também, em paralelo, fotos em uma parede e um trabalho de cada um, da época da nossa exposição em Florença.
Peço-te o prazer legítimoE o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo
De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Sempre fui artista no olhar e a idealizar meus sonhos. Aos 16 anos ingressei na Escola de Belas Artes, no curso livre. Fiz cursos de desenho (com Goya, em seu atelier em Cosme de Farias) e de pintura (na Panorama, com Euler).
Ainda criança criei um gosto e um olhar para as obras antigas, nas viagens com meus pais à Itália. Da escola não saí, segui com o curso em Licenciatura em Desenho e Plástica, por identificação com as variantes do desenho e suas aplicações.
Aos 18 anos, já na UFBA, comecei a trabalhar no atelier do artista Luis Jasmim, desenhista por excelência, que naquele momento pintava um tríptico sobre a festa de Iemanjá. Iniciei ali um período de quatro anos de grande aprendizado e convivência com artistas, críticos e colecionadores, como Gilberto Chateaubriand, que perdura até hoje.
Depois de me formar comecei a trabalhar com restauração, como prestador de serviços para o Ipac, na antiga Faculdade de Medicina da Bahia. Fui contratado em 1979, tendo feito, até então, várias exposições individuais e coletivas. Entretanto naquele momento pretendia estudar Restauro, cujo curso não existia no Brasil. Assim, me inscrevi para uma pós em Restauro numa Universidade em Florença. Elisa e Goya já estavam lá, na mesma escola.
Todos nós (os cinco) tínhamos uma razão muito especial para eleger a Itália como berço da nossa vida pós-acadêmica. Todos os caminhos levavam ao patrimônio artístico e cultural italiano. Queríamos aprender para atuar no nosso país, onde não havia cursos, porém muito a ser feito. Realizamos no salão da
Casa dello Studente, em Florença, a nossa vontade de mostrar um pouco do nosso fazer artístico, jovens latinos, oriundos e afrodescendentes, miscigenados num turbilhão de ideias e ideais.
Retornamos e segui a minha carreira de restaurador público, atuando em igrejas, monumentos, museus e em empresas do Rio, Recife, Brasília e, em 2014, na restauração de pinturas em um castelo em Trento, na Itália. Atuei também no MAM do Rio, em ações de conservação, representando-o em Quito, num congresso de Restauro para Novas Tecnologias. Neste museu encontra-se a maior coleção de Arte Moderna e Contemporânea do país. A convivência com curadores da “Geração Oitenta” e artistas contemporâneos acordou inquietações primordiais lá do passado e daí vem acontecendo um processo entre o olhar da câmara e do papel escrito.
Vivo em Salvador em um velho sobrado do século XIX, com azulejos na fachada e vista para a Bahia de Todos os Santos. Este é o tempo. Tempo para sonhar com arte (que nunca saiu de mim), fiel e solidária companheira, como amigos verdadeiros. No que escrevo e fotografo, proponho pensar o âmago das coisas que parecem ser mas não são. Estou instigado com este reencontro, caminhos que se cruzam e se entrelaçam novamente.
Abaixo: Poema sobre fotografia digital. Da Série Nem Tudo que Parece é.
Nasci na Bahia, de pai italiano e mãe baiana. Como vivíamos na casa da nonna, a Itália esteve na minha vida, desde sempre, como um lugar mítico onde um dia, sem saber como, iria inevitavelmente parar. Desenhando desde a infância, comecei a pintar a óleo na adolescência, e mostrei meu trabalho, pela primeira vez, numa exposição coletiva, aos 13 anos, no âmbito colegial.
Durante os anos 70 e 80 incursionei pelo teatro baiano produzindo cenografias, figurinos, cartazes, elaborando inclusive o cenário de uma ópera, La Traviata, no Teatro Castro Alves.
Estudei arquitetura e, como previsto, aproveitei a primeira chance que apareceu e fui fazer Mestrado em Restauração de Monumentos, em Nápoles, na Itália, onde permaneci por dois anos. Neste período, fundamental na minha vida, tive contato com aqueles monumentos e aquelas obras de arte que costumava degustar, através das ilustrações dos livros do meu pai. E desenhei, desenhei, desenhei, tanto que num momento tive que expor este material todo, em duas exposições: Um salão de arte em Nápoles mesmo e na coletiva TEMPO, em Florença, junto com mais quatro brasileiros que estudavam por lá. Dos quatro, conhecia Elisa Galeffi desde os tempos da Bahia, os outros três, Goya Lopes, Bruno Visco, também baianos, e a paulistana Clara Fernandes, tive a alegria de conhecer lá mesmo, em Florença, organizando a nossa inusitada exposição, com a coragem, a inspiração e o desejo que só a arte e o sabor de estreia nos confere. Tenho a certeza de que nenhum de nós cinco foi mais o mesmo depois daquela experiência inaugural.
Voltei ao Brasil e, a partir de 1983, realizei 18 mostras individuais em espaços de Salvador como o ICBA, os Correios, o Palacete das Artes e o MAM da Bahia. Participei ainda de toda sorte de eventos de arte, entre mostras coletivas (60 ao todo), salões e projetos especiais em Salvador e outras cidades, como São Paulo e Viena. Integrei os clips Mestres da Pintura Baiana, com 25 artistas, em comemoração aos 500 anos da Descoberta do Brasil, pela TV BAHIA (Rede Globo), veiculados em 2000 e 2001, e a 6ª edição da Southward Art – Latin American Art Review, (Dez-Fev/2000), em reportagem assinada por Matilde Matos, tendo dois quadros incorporados à Southward Art Collection em Buenos Aires, Argentina.
Alternando arte com arquitetura, restauração, cenografia e design, levei meu trabalho para outras capitais brasileiras como Brasília, Rio de Janeiro e Fortaleza. Ensinei também na pós-graduação e graduação da Universidade Federal da Bahia e depois em universidades particulares.
É importante destacar que em toda esta trajetória encontram-se impregnados aqueles dois anos de vivência italiana, seja pelo contato direto e constante com as obras exponenciais da arte e cultura ocidentais, que lá se encontram, seja pelo exercício continuado da experimentação de linguagens e técnicas a que me dediquei, naquele período, tanto quanto um jovem artista pode se permitir.
Nesta mostra SEGUNDO TEMPO, em que fazemos um reencontro dos cinco artistas na Bahia, oportunidade extraordinária de expor nossas produções artísticas em fase madura, selecionei 13 telas de pintura acrílica e acrílica em baixo relevo, com dimensões variando entre 80X80 cm e 100X100 cm, todas das minhas três fases mais recentes: CIDADES INVISÍVEIS ( Correios, 2010), TRAMAS SINCERAS ( Palacetes das Artes, 2014) e RETRATOS DO MUNDO FLUTUANTE (MAM, 2017).
Sou de São Paulo, e tenho sangue italiano por parte de mãe. A Itália sempre me encantou e foi em Florença que fui me especializar em Museologia e Teoria do Restauro depois que me formei em artes plásticas pela FAAP.
Foi na FAAP que tive minha introdução ao mundo das artes frequentando o ateliê multidisciplinar na pré-escola.
Antes de me formar, fiz vários cursos paralelos, como aulas de pintura à óleo com Castelane; fotografia na Imagem Ação, na época onde tudo era manual; desenho com Fajardo; e aulas de escultura com Franco de Renzis, que tinha acabado de chegar ao Brasil e me incentivou a ir estudar na Itália.
Já fui para o curso de Museologia e Teoria do Restauro na Università Internazionale dell’Arte di Firenze muito apaixonada pela história da arte italiana e preocupada em conhecer as perfeições técnicas para poder assimilar as obras em sua totalidade. Lá, conheci outros brasileiros, vindos da Bahia de Todos os Santos, e imediatamente nos tornamos amigos.
Participamos juntos da exposição coletiva TEMPO num espaço de tempo mágico em nossas vidas, criando um vínculo artístico e afetivo.
Voltando para São Paulo continuei minha busca, explorando materiais e técnicas diversas.
Trabalhei muito executando esculturas em bronze e me interessei por diversos materiais e formatos, entre os quais joias e peças de grandes proporções. Fiz quatro exposições individuais em São Paulo e participei de diversas coletivas.
Também criei peças para jardins de escolas e prédios e executei vários troféus, como a medalha dos 25 anos de Fórmula 1 no Brasil; o do Prêmio Big Trip 2000; do prêmio A melhor pizza, num concurso na Pizzaria Cristal com júri vindo de Nápoles; do Prêmio O Câncer de Mama no Alvo da Moda; e a campanha contra a Aids, entre outros tantos. Dei ainda aulas de escultura e me formei em Arte Terapia.
Hoje faço parte de diversas coleções no Brasil e exterior e me dedico a fazer um acervo das minhas esculturas na minha chácara.
Na exposição SEGUNDO TEMPO, exponho minhas produções de várias épocas, dando uma mostra dos meus trabalhos atuais e também daqueles feitos há algum tempo. Apresento alguns bronzes e quadros mais recentes, feitos com alfinetes, em tamanhos variados. O material escolhido tem a função de criar surpresa na leitura visual.
Eu sempre soube o lugar das coisas. Não foram poucas as vezes, na infância, que meu pai me acordou, às seis da manhã, para me perguntar por algum objeto. – Elisa, onde está a tesoura?
Além de saber o lugar das coisas, desde criança eu costumava agrupar pequenos objetos em conjuntos ditados por minha imaginação. Carrego ainda hoje esse gosto pelo micromundo e, de forma muito natural, faço disso uma das vertentes de meu trabalho. Ao agrupar pequenas coisas que foram descartadas, ou que ainda são úteis, dou a esses objetos novo uso e novo significado, desta vez no campo artístico.
Nesta exposição apresento composições formadas por objetos que me pertencem e por outros encontrados ao acaso em praias e em diversos ambientes naturais. Apresento também outra vertente do meu trabalho, com base em fotos, sobre as quais interfiro manualmente (não digitalmente) e depois refotografo. Assim, o suporte inicial e final é a fotografia – transformada em desenho e, novamente, em fotografia.
Todos esses trabalhos são fruto de minha forte ligação com a arte contemporânea. Quando voltei de Florença para Salvador, me dediquei por alguns anos a trabalhos gráficos, principalmente estampa sobre tecido – durante um período em parceria com Goya Lopes e depois, individualmente. Ainda em Salvador, trabalhei como restauradora do Museu de Arte Moderna da Bahia, onde criei e ministrei o curso de estamparia de padronagens. Em paralelo, realizei três exposições individuais da série Mandalas, todas em estampa sobre tecido.
Sempre tive uma forte necessidade de renovação e de estar em contato com as tendências do meu tempo. Minha natureza é de experimentação constante. Por isso, ao me mudar para o Rio de Janeiro, no início dos anos 1990, frequentei cursos no Parque Lage e no Instituto Moreira Sales e de Pós-graduação em Arte e Filosofia na PUC.
O contato mais intenso com a arte contemporânea me deu a liberdade de trabalhar não só com as técnicas tradicionais, mas também com novos materiais e formas de composição. Foi nesse novo universo que busquei a minha atual maneira de me exprimir e me comunicar. A adesão a esse novo caminho artístico não significou a supressão de minha identidade individual no que faço nem de uma concepção estética da arte. Muitos artistas contemporâneos – da arte conceitual, principalmente – seguiram esse rumo. Diferentemente deles, utilizo a liberdade que a contemporaneidade artística me oferece para, no fim das contas, falar de mim, de minha vida e de minha visão de mundo. Ao recolher e agrupar objetos que me cercam, por exemplo, verifico o que acumulei, o que tive, o que achei. A criação transforma-se em uma investigação da memória afetiva e da história pessoal. Transforma-se ainda em uma reflexão sobre o uso das coisas e as formas de absorção do descarte do consumo humano pela Natureza. Outras obras propõem outras reflexões. Em todas elas, sem que me veja direcionada para isso, acabo por abordar temas que estão na agenda da sociedade contemporânea. Minha natureza impõe estar fazendo algo, por menor que seja, para as grandes causas.
A arte carrega todas as possibilidades. Mas os vínculos humanos são maiores que ela. Esta exposição demonstra isso. Ela é um maravilhoso reencontro. Ao fazer parte de sua concepção e preparação, tive a imensa alegria de reviver os momentos mágicos que passei na Itália, no fim dos anos 1970, com Bruno, Chico, Clara e Goya. E de constatar que, ainda hoje, tantos anos depois, continuamos sendo artistas, vivendo “a dor e a delícia” de sermos artistas. Mais que isso: que continuamos a ser amigos e, apesar das rugas de expressão, continuamos a aprontar juntos, como fizemos na inesquecível Florença de um tempo que nunca se apagará.
Aos sete anos de idade, a minha professora chamou meus pais e disse-lhes que eu tinha um desenho diferente e que deveria ser estimulada. Quando fiz onze anos, iniciei, com a professora Marisa Gusmão, da Escola Belas Artes, desenho de observação e interpretação. Eu desenhava ex-votos e cerâmica de Maragogipinho, numa grande iniciação à cultura popular baiana. Estudei o estudo de pintura na Panorama Galeria de Arte, onde fui aluna de Euler Cardoso. Ingressei em 1972 na EBA – Escola de Belas Artes da UFBA, participei de algumas exposições coletivas em Salvador e uma individual no Rio de janeiro.
Ao finalizar o curso, concorri e ganhei uma bolsa de estudo do governo italiano e fui orientada pelo professor de estética da UFBA, Romano Galeffi, a fazer a profissão do futuro: o Design. E lá fui eu para a Itália. Não sabia que naquela década havia um movimento que propunha utilizar métodos artísticos que aproximavam cada vez mais a arte do design. Um professor da Universitá Internazionale dell’Arte di Firenze me orientou a usar o meu potencial artístico para a estamparia. Na Itália fiz três exposições coletivas e uma individual. Frequentei o estúdio da designer Linda Yerimonti, a Estamperia Fiorentina e um curso de litogravura. Em Florença tinha uma colônia de brasileiros que promovia encontros e jantares. Entre eles, amigos antigos, como Elisa e Bruno, e novos, como Maria Clara e Chico. Daí surgiu a Exposição TEMPO, o nosso tempo na Itália, exposição que selou nossas amizades.
Ao retornar em 1980 para o Brasil fui logo para São Paulo, onde trabalhei como freelancer para a linha Madrigal da Alpargatas. De volta a Salvador trouxe um grande desafio: ser artista, designer e empresária. Elisa e eu fizemos uma parceria desenvolvendo estampas e produtos, depois seguimos caminhos diferentes. Em 1986 lancei a Didara, marca pioneira na vertente da moda e decoração afro-brasileira. Ao longo desses anos trabalhei com figurinos para Jimmy Cliff e outros artistas e panôs para o Itamaraty decorar o salão onde o presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu as Missões Estrangeiras na sua primeira posse. Fiz panôs para a Fundação Ford em Nova York e exposições individuais em Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Nova York e Chicago e coletivas em Salvador, Brasília, Curitiba, Philadelfia e Los Angeles. Em 1993 ganhei um prêmio do Museu da Casa Brasileira. Em 2013 iniciei a marca Goya Lopes Design Brasileiro ampliando o trabalho para o universo nacional, estreando uma loja online e mantendo a física. O meu acervo de 32 anos de design de superfície em estampas está sendo adequado para ser utilizado em outros suportes e em atividades artísticas num modelo de negócio de uma plataforma digital.
Os três anos vivenciados na Itália deram um norte de como eu deveria trabalhar o design e as artes plásticas. E foi olhando de longe a Bahia, tanto da Itália como de São Paulo, que alimentei o desejo de construir um trabalho autoral, caracterizado pela identidade, diferenciação, versatilidade e que tivesse um constante processo de inovação e experimentação.
Nesta mostra SEGUNDO TEMPO, em que nós, os cinco artistas, nos reencontraremos na Bahia para expor nossas produções artísticas, apresento sete estampas, que têm como suporte o tecido, de diversas fases da minha trajetória.
E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo
Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo
Agradecemos a todos os que colaboraram para a realização deste projeto.
No âmbito do Governo do Estado da Bahia, à Secretária de Cultura, Arany Santana; ao Diretor Geral da Fundação Pedro Calmon, Zulu Araújo; e ao Diretor do Palacete das Artes, Murilo Ribeiro, e a suas respectivas equipes.
Agradecemos também às empresas e pessoas que, gentilmente, ofereceram seus serviços e tornaram possível a concretização de nosso sonho: à Versal Editores, Alice Galeffi e Olivia Rigon, pela criação e edição do catálogo; a João Osmário, à Tirolez e à Brasilfrutt, pelo coquetel de inauguração da exposição; e à Aeté Comunicação Visual, pela plotagem dos textos.
Agradecemos ainda aos familiares e amigos que nos deram o apoio e carinho de sempre, sem o qual não teria sido possível dedicarmo-nos a este trabalho, particularmente a Ângela Visco Bruno, Antonio Carlos Calil, Caiuá Frias, Cláudio Brito, Eduardo Ramalho, Giovanni Visco Bruno, Jade Gadotti, José Enrique Barreiro, Kathia Berberth, Márcia Braga, Rafael Adorjan, Raoni Monteiro, Roberto Gomes Lago e Sonia Marinho.
A todos, o nosso mais sincero e afetivo agradecimento.
Bruno, Chico, Clara, Elisa, Goya