Excelsos Excessos - Reciclagem do Barroco. Museu da Misericórdia

Esta mostra comemora meus 42 anos de carreira, iniciada com a exposição individual DESENHOS, 1983, Aliança Francesa de Salvador, embora, efetivamente meu ciclo de exposições coletivas tenha se iniciado bem antes, em 1967, na primeira EICAP - Exposição Intercolegial de Artes Plásticas, no Gabinete Português de Leitura de Salvador.

Sendo baiano, criado numa família ítalo-brasileira católica, o barroco e seu imaginário me instigam, desde que me entendo por gente. Visitas proporcionadas pelos meus pais ao recém-inaugurado, na época, Museu de Arte Sacra da Bahia, um dos mais imponentes da América Latina, empreendimento magnífico do fundador da Universidade Federal da Bahia, Reitor Edgard Santos, aos cuidados dedicadíssimos do frade alemão Dom Clemente Maria da Silva Nigra, seu curador, só enriqueceram este meu acervo de imagens do qual me utilizo agora.

Entretanto, o meu interesse pelo estilo Barroco, como entendimento e pesquisa vai se acentuar no antigo Colégio Marista, pelos ensinamentos da brilhante e conhecida professora de português Candolina Rosa, a quem Caetano Veloso também dedicou uma canção. Coincidentemente, neste mesmo ano, ocorre em Salvador o I FESTIVAL DO BARROCO LUSO BRASILEIRO do qual participamos, como penetras impertinentes, eu e meu colega de classe Márcio Meirelles, com o beneplácito de D. Candolina que, orgulhosa dos seus inquietos e curiosos pupilos, nos dispensava de suas aulas para que frequentássemos o festival.

Tudo isto abriu enormemente a minha percepção para esta expressão de arte que, embora transposta da Europa, aqui floresce extraordinariamente pelas mãos dos nativos aprendizes, numa versão brasileira, como é o caso do Aleijadinho, Frei Agostinho da Piedade e tantos outros.

Mas foi em Lisboa, em 2017, na Igreja de São Roque, no Bairro Alto, que ocorreu esta epifania. Nada teria acontecido se minha amiga lisboeta Catarina não tivesse me indicado esta preciosa visita. Parece que somente naquele inesperado templo e momento eu tenha podido entender suficientemente as matrizes desse barroco luso brasileiro que eu tanto consumira, ao longo de todos esses anos, e recebido a mensagem da minha nova missão: reinterpretar tudo isto em pintura contemporânea; e assim foi.

Percalços vários fizeram o cumprimento desta missão se estender por 8 anos, mas aqui está o resultado, nestas telas, que contemplam o sagrado, o profano e o afro-brasileiro. Fazê-la no Museu da Misericórdia da Bahia pareceu uma consequência natural desta trajetória e então surgiu a ideia de integrá-la às preciosas peças do acervo do Museu, realizando o necessário contraponto entre o barroco legítimo e as minhas interpretações contemporâneas dele, esperando que isto traga ao público revelações inesperadas.

A exposição, como não poderia deixar de ser, se divide em 3 linhas temáticas: a dos SAGRADOS, com alguns de seus quadros ao lado das peças originais barrocas, que lhes inspiraram, a dos PROFANOS e mais uma terceira, em homenagem à cultura Afro-Brasileira, presente no período abordado, contando ainda com a luxuosa contribuição da artista visual Goya Lopes, com sua vasta obra baseada nesta cultura.

Esta é uma exposição dedicada:

• à saudosa professora Candolina Rosa de Carvalho Cerqueira, por ter me ensinado o que era o Barroco;
• à lisboeta Catarina Bernardes dos Santos, por ter me ensinado o caminho da Igreja de São Roque, no Bairro Alto de Lisboa;
• à saudosa Soninha Marinho, musa única, por pactuar toda trajetória.

Chico Mazzoni, 2025

Informações: (71) 9 9972-7474