O ZEN no deZENho

Poucos artistas aqui têm o mimetismo de Chico Mazzoni com o atual e nem estou me referindo às últimas correntes da arte, mas ao mundo em que vivemos, à multiplicidade de imagens, àquela espécie de alerta que têm os que querem lançar o modelo do último carro, fazer o lay-out do anúncio que vai chamar atenção, a ênfase nos acessório e nas cores e uma espécie de fascínio pela imagem fotografada que sempre o acompanha. Do ZEN, além da maioria dos motivos, tirou o espírito, a placidez e principalmente a sutileza o que consegue com transparências que encobrem mais do que revelam, deixando sempre no ar uma dubiedade misteriosa.

A forma também de jogar com a estrutura interior que deixa entrever e imaginar o exterior, que é muito da arquitetura japonesa. A atitude das figuras femininas, o vapor, o velado. Há sempre uma relação de formas arquitetônicas da imagem principal dentro de um contexto espacial projetado e com cores que se completam ou contrastam, produzindo uma interrelação de importância fundamental no desenho.

É o todo para formar uma composição onde até o suporte surge às vezes como parte integrante e não como fundo. Este jogo de composição com a figura central pode ter curvas sensuais, ou retas que se cortam, e as texturas e as cores dão oclima.”

Estas equivalências lógicas de divisões, interseções e até discrepâncias, é que fazem o jogo paralelo entre o ôlho e a mente. CM não quer, nem tem a pretensão, de entrar na filosofia Zen, como o expert que diz não ser. O que êle quer mesmo é fazer a sua mistura de desnho e pintura, tirando um prazer enorme no fazer e no usar o latex que dá a êle uma possibilidade imensa de misturas, retocando depois o seu chapado com o sombreado do desenho, usando a motivação oriental mas com o seu modo de ver ocidental.

Matilde Matos (ABCA e AICA) • JORNAL DA BAHIA, 25 e 26/09/1988